domingo, 30 de maio de 2010

O ANTÍDOTO PARA NOSSA LIMITAÇÃO


“Bem sei que tudo podes e nenhum dos teus planos pode ser frustrado”. Jó 42:2

Há momentos em nossa vida em que nos sentimos imensamente pequenos. Fazemos planos, mas não vemos como poderemos realizá-los. Deus revela Seus sonhos a nosso respeito, no entanto nos sentimos nanicos e falhos. Temos a impressão que somos “as pessoas erradas para a tarefa certa”. Olhamos para nossas mãos e nos perguntamos: como desenvolverei tão grande missão se sou tão frágil e limitado?

Sim, todos nós já tivemos o momento em que nos enxergamos como que diante de um espelho. É nestes momentos de auto-reflexão que descobrimos que não somos tão bons quanto pensávamos, temos defeitos, precisamos ser aperfeiçoados, pois ainda temos muito para caminhar e aprender. Em resumo, somos confrontados com a seguinte revelação:
SOMOS VASOS DE BARRO, SOMOS PÓ, SOMOS FRÁGEIS.

O profeta Jeremias também passou por este processo de auto-descoberta. Em Jr 18:1-6 é possível observar como isso ocorreu:

“A palavra do SENHOR, que veio a Jeremias, dizendo: Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras. E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas; como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer. Então veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o SENHOR. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel.”

A mensagem profética que Jeremias deveria entregar não estava direcionada apenas para a nação de Israel, pelo contrário, era também para sua própria reflexão, afinal ele era parte do povo. Desta maneira, ao mesmo tempo em que lhe era revelada a Palavra a ser proferida, seu coração ia sendo impactado com a revelação de que ELE ERA UM VASO DE BARRO!

Imagino que enquanto o oleiro quebrava o vaso e o refazia, Jeremias se enxergava e se descobria. A cada movimento das rodas citados no texto, o profeta compreendia que sua vida precisava de uma guinada, de um giro transformador.

Isto sucedeu também com Jó. No entanto, a forma de ensino foi diferente. Ao invés de analogia profética direcionada a uma nação, Deus utilizou “como didática” uma aflição real, duradoura e pessoal.

Durante todo o livro que leva seu nome, Jó procura compreender o motivo de sua aflição. Em diálogos com seus amigos, tentava entender a mente de Deus e Seu senso de justiça. Nesta procura desesperada por respostas, Jó encontrou perguntas. Deus de forma inesperada se revela, como se vê em Jó 38:1-3:

“Depois disto o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo: Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos, como homem; e perguntar-te-ei, e tu me ensinarás.”

Inexplicavelmente Deus se põe como questionador num momento em que Jó queria respostas. O Senhor o convida para um embate dialético onde Ele lhe perguntaria, e não o contrário. Então, Jó nota o centro das atenções mudando da “ponta de seu nariz” para as coisas que estavam a sua volta. Neste contexto, Ele percebe sua enorme fragilidade e pequenez. Diante da grandeza do Senhor, de Suas obras e questionamentos, Jó se descobre infinitamente minúsculo e responde e Deus:

“Bem sei que tudo podes e que nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é este, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia.” Jó 42:2-3

Neste momento, Jó percebe o quanto é incapaz de governar sua vida, enxerga a Graça do Senhor no seu cotidiano e descobre que até mesmo sobre seus desejos e atitudes Deus é Senhor Soberano. A partir deste ponto sua alma encontra a revelação capaz de acalmar a alma do mais intenso dos ansiosos e o mais implacável dos perfeccionistas (que costumam se auto-mutilar com o chicote da culpa):

BEM SEI QUE TUDO PODES E NENHUM DOS TEUS PLANOS PODE SER FRUSTRADO.

Nesta frase ele demonstra a compreensão descrita no decorrer do capítulo de que Jeová é o Senhor até de nossas fragilidades. Não existe limitação pessoal capaz de nos impedir de cumprir a vontade de Deus, desde que estejamos totalmente dependentes de Sua Maravilhosa Graça. Se assim nos colocarmos diante Dele, Ele nos moldará, nos refará, operará em nós o querer e o efetuar (Fp 2:13) e completará a boa obra de nos tornar varões perfeitos a semelhança de Cristo (Fp 1:6).

Entender nossa limitação, compreender o pleno controle do Senhor sobre nossas vidas, nos sujeitar a este controle e experimentar da Graça de Deus em nosso cotidiano é o antídoto para nossa fragilidade, o remédio que nos cura da culpa pelo erro (mesmo após termos confessado e sido perdoados), o princípio ativo que nos sara da autoflagelação.

Quando descansamos nesta verdade entendemos, a semelhança do apóstolo Paulo, que os “espinhos na carne” são instrumentos de Deus pra o exercício de nossa dependência e humildade, pois estes “espinhos” nos fazem lembrar que somos humanos e precisamos desesperadamente da ação sobrenaturalmente transformadora do Senhor. Por isto, deixe que esta revelação entre em seu coração sarando sua alma do sentimento excessivo de pequenez e limitação. Se você assim fizer, descansará na certeza de que o Senhor te aperfeiçoará para a Glória Dele e, além disso, você viverá o que está escrito em 2 Coríntios 12: 9-10, que diz:

“E disse-me [o Senhor]: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo.
Porque quando estou fraco então sou forte.”

Que o Senhor Jesus te abençoe poderosamente...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O DNA DO IMPOSSÍVEL...


“E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi.” Gn 1:11


Este é um dos textos que muito me emocionam quando leio o livro de Gênesis. Apesar de parecer simples, nele reside um dos maiores segredos da vida cristã: A PALAVRA DE DEUS É GERADORA DE VIDA E TODA SORTE DE MILAGRES!


Quando lemos desatentamente o verso 11 do capítulo 1 não notamos que a criação da vegetação terrestre iniciou-se de forma inusitada. Deus criou um sistema auto-suficiente onde árvores produziriam frutos que por sua vez gerariam sementes e assim por diante. No entanto há algo que precisamos questionar:


ONDE ESTAVA A SEMENTE QUE ORIGINOU ESTA VEGETAÇÃO?


Em biologia chama-se germinação ao processo inicial da formação/crescimento de uma planta a partir de um corpo em estado de vida latente, que pode ser uma semente ou um esporo. Pode-se compreender por “vida latente” um corpo que armazena em si a incrível capacidade de reprodução pela carga genética que carrega e que aguarda a hora propícia de liberar esta vitalidade.

Quando observamos o texto de Gênesis percebemos a ausência de carga genética capaz de originar as primeiras plantas de nosso planeta. Em resumo, o texto parece incompleto pois uma enorme lacuna se observa Nele.

Quando procuramos a origem da vida vegetal neste texto não devemos nos atentar para as coisas naturais, mas para as SOBRENATURAIS.


A maravilhosa semente está nas quatro primeiras palavras do versículo 11:

“E DISSE DEUS: PRODUZA...”


A origem, sem dúvida, foi O VERBO, isto é, A PALAVRA DE DEUS. Ela possui vida em si mesma e por isso tem o poder de tornar realidade o que é impossível. O Evangelho de João no capítulo 1 afirma que:


No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no Princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio Dele e sem Ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida...”.


Note que o texto fala do VERBO como se este fosse uma pessoa. E realmente é. Na verdade, no grego, esta palavra presente no texto de João 1:1-3 aparece como LOGOS (λόγος) que significa tanto palavra falada quanto escrita, por isso traduzida para o português como verbo, isto é, uma classe gramatical utilizada para expressar processos, ação, estado, mudança de estado, fenômeno da natureza, conveniência, desejo e existência. Ou seja, situações ou ações peculiares aos seres celestes ou terrestres.


Neste caso, o ser a quem a palavra LOGOS se refere é a Pessoa do SENHOR JESUS, o grande EU SOU (Ex 3:14a), o qual é Deus, tem em si mesmo vida e gera vida pelo seu Excelso Poder. Nele (e em Sua Palavra) está “o DNA” capaz de trazer a existência o IMPOSSÍVEL, o IRREAL!

É por causa disto que o singelo texto de Gênesis se torna tão SUBLIME! Quando entendemos a gigantesca revelação que há nele percebemos que não precisamos de subsídios para que o milagre aconteça. A genética geradora de vida está na PALAVRA QUE SAI DA BOCA DE DEUS! Basta que o Senhor abra a boca e do nada a estéril Sara dá a luz a um filho ao seu senil esposo Abraão. Basta que uma frase seja proferida e uma viúva endividada, pobre e faminta passa da condição de miserabilidade para a abundância pela multiplicação do pouco azeite em suas botijas. Somente com uma ordem do Espírito Santo de Deus uma virgem dá a luz, um pescador frustrado vê suas redes cheias (e seu coração inundado de Graça), um judeu altivo chamado Paulo passa de perseguidor a perseguido (e se torna o maior mártir do cristianismo), paralíticos e coxos andam, leprosos são limpos (e recuperam sua dignidade), cegos vêem, mortos ressuscitam e...


E...???????


O que você completaria após este “E”?


Quem sabe o seu desejo é encaixar o seu tão sonhado milagre no fim da frase.


Quem sabe o que você vive agora é algo um pouco mais intenso do que a situação da viúva que citei, pois você se encontra SEM AZEITE E BOTIJA.


Mas e daí? Quem disse que Ele precisa de azeite, de botija, de SEMENTE? Ele é a SEMENTE! E se Ele der uma ordem a seu respeito, espere: O MILAGRE VAI ACONTECER!


Como está escrito em Romanos 4:17b: “Deus, que vivifica os mortos, chama a existência as coisas que não são como se já fossem.”


Ainda que seus sonhos e planos pareçam impossíveis de se concretizar, descanse, pois no Senhor está sua Fonte, Tesouro, Herança, Vida Abundante e certeza de que o melhor acontecerá.

Por isto, posso encerrar nossa reflexão de hoje te fazendo recordar...


“Mas, como está escrito: As coisas que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam.”

1 Co 2:9


Que o Deus Vivo gerador de Vida te abençoe poderosamente...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O VALE 121 – PARTE 2


“Elevo os meus olhos para os montes; de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra.”
Salmo 121:1-2



Um vale profundo demais para ser ignorado...


Um monte distante demais para ser alcançado...


Em meio a tanto desespero, 121 consegue observar ao seu redor uma cadeia de montes. A imagem esverdeada da paisagem o faz esquecer-se por alguns minutos do seu triste e obscuro momento e, sem que notasse, sua mente começa a lentamente trazer-lhe novos pensamentos.

Frases soltas e momentos felizes começam a serem relembrados até que sua memória remete-se a um texto da Torá, que diz: “Esforça-te e têm bom ânimo; Não pasmes e nem te espantes! Porque Eu, o Senhor, sou contigo por onde quer que andares!”.
Pensando ter ouvido uma voz naquele solitário vale, 121 ergue a cabeça e assustado vê sua memória repetir a frase: “Esforça-te e têm bom ânimo; Não pasmes e nem te espantes! Porque Eu, o Senhor, sou contigo por onde quer que andares!”.

Outras vezes o texto se repete em sua mente de tal maneira que aquilo que era apenas uma lembrança tornara-se agora uma voz viva e ativa.

- Esforça-te e têm bom ânimo; Não pasmes e nem te espantes! Porque Eu, o Senhor, sou contigo por onde quer que andares! – repetia a agora voz ativa.

- Esforça-te e têm bom ânimo; Não pasmes e nem te espantes! Porque Eu, o Senhor, sou contigo por onde quer que andares!

Ouvindo a frase repetidas vezes, 121, fechando os olhos, começa a questionar a voz que grita no seu interior, dizendo:
- Deus Santo, Criador dos céus e da terra. Como eu posso ter forças e ânimo neste estado? Meus braços e pernas não respondem a meu comando! Minhas esperanças sumiram, pois meus sonhos poderão ser mortos a qualquer instante pela espada afiada de um filisteu qualquer! Tenho te servido há anos, oh Deus... Mas agora não posso! Estou no fundo do poço! Estou no meio do vale!

Seguida da frase, vem um longo suspiro incontido que é seqüenciado por um brado que há dias está travado na garganta:
- Socorre-me Senhor!
- Socorre-me Senhooooor!
- Socorre-me Senhooooooooor! - grita, por várias vezes.

Depois do grito, 121 suavemente abre os olhos e, como que se tivesse recebido uma revelação, percebe no cume de um destes montes um brilho diferente. O reflexo da luz solar atrai suas pupilas de tal maneira que sente-se vidrado pelo que vê. Com esta cena a sua frente, uma parte especial do repetido verso da Torá ressalta em seus ouvidos:
- Eu, o Senhor, sou contigo por onde quer que andares...
- Sou contigo...
- Por onde quer que andares...

Nesta hora um dos mais belos versos do Livro de Salmos é tecido no coração de 121. Em meio a lágrimas, seus lábios lentamente começam a sussurrar:
- Elevo os meus olhos pra os montes. Quem me dará socorro? O meu socorro vem do Senhor...
- Vem do Senhor... – continua
- Vem do Senhor, que fez os céus e a terra...

Enquanto o coração de 121 começava a criar um dos mais lindos cântico bíblicos, a uma certa distância dali, Deus dava uma miraculosa vitória ao Rei Davi e seus súditos.
Filisteus corriam por toda parte sem compreender como o cerco havia sido desmantelado. Soldados do exército de Israel subiam velozmente as campinas, vales e montes em busca de um filisteu qualquer que estivesse perdido ou escondido. E, nesta busca, um(a) israelita é encontrado de joelhos num vale. Soldados e um jovem homem de pele ruiva o pegam pelos braços e perguntam:
- Qual é o teu nome?

E o israelita responde:
- Sou 121. Um simples servo que compôs das lágrimas um novo cântico a Deus!

E o jovem ruivo responde-lhe:
- Prazer em conhecê-lo, Valente de Deus! Eu sou o Rei Davi!

Daquele dia em diante nada mais ouviu-se falar sobre 121. Sabe-se apenas que os palácios do Rei se lhe abriram e que em Israel, em dias de fome e desesperança, o seu cântico era lido a toda nação como sinal de que Deus pode mudar situações desastrosas.

Hoje este salmo serve como ensinamento de que o vale não é o lugar mais profundo da vida, mais o início de um alto e brilhante monte.

Se você está arrasado, sem direção, seus sonhos ruíram, sua despensa está vazia, está desempregado e sua auto-estima se foi junto com sua fé, lembre-se:

O vale é o lugar onde aprendemos a ouvir a Deus e o conhecemos verdadeiramente, a fim de que sejamos trabalhados para então desfrutarmos de sua intimidade no cume do monte.

Não tenha medo de chorar, gemer ou gritar por socorro neste vale que você está vivendo. O Salmista gritou por socorro, pois reconhecia sua necessidade de Deus.

Não minta para si mesmo escondendo sua angústia. Grite pelo Senhor e por Seu socorro! Diga a Ele que você quer sair deste vale!

O Senhor conhece suas limitações. Ele não deseja que você seja "perfeito" vivendo uma vida de tentativas de sucesso ou aperfeiçoamento de si mesmo pela força de seu próprio braço (porque é Ele quem te dá vitória e te leva a perfeição, afinal, as Escrituras dizem que esta obra é Dele). Ele apenas deseja que você seja humilde, sincero e inteiramente dependente Dele!

Por fim, jamais se esqueça:

É preciso passar (e não ficar) pelo vale pra subir a Montanha de Deus!


Que o Senhor te abençoe. Ele é contigo, por onde quer que andares...

domingo, 16 de maio de 2010

O VALE 121 – PARTE 1



“Elevo os meus olhos para os montes; de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra.”
Salmo 121:1-2

Escrever sobre o que se vê é lindo. Falar sobre o que sê ouve é esplendoroso. Mas testemunhar o que sê vive é incomparavelmente singular.
As mais profundas histórias nascem de pessoas que primeiro viveram e depois descreveram suas experiências. As mais comoventes poesias saem das nostalgias, lágrimas ou alegrias do poeta, que, na tentativa de materializar suas emoções, transforma sentimentos em versos.
Há dezenas de homens e mulheres assim na Bíblia. O mais conhecido deles é Davi, o segundo Rei de Israel. Contudo hoje não escreverei sobre os textos do famoso rei Davi. Pelo contrário, compartilharemos, em duas partes, a história de um anônimo. Um homem ou mulher comum que, após muito ter chorado, colheu suas lágrimas numa taça e serviu como agradável bebida as pessoas que estavam a sua volta a fim de repartir com elas a maravilhosa experiência que teve com Deus. Compartilharemos a história do(a) escritor(a) do Salmo 121 e o(a) chamaremos simplesmente de “121”. Portanto, convido-lhe para preparar seu espírito a fim de navegarmos juntos com 121 nas águas da imaginação e da emoção através de uma ficção que quem sabe pode ilustrar a vida de muitos de nós.

Seria um dia comum. O sol nascia alegre beijando as verdes campinas da terra de Israel. As fontes de Jerusalém pareciam cantar uma suave melodia. Os ventos orientais sopravam as oliveiras e os campos de trigo. Ovelhas alvas como a neve chamavam aos gritos por seus pastores. Carvalhos balançavam numa sincronizada dança matinal. Seria um dia comum. Um dia como outro qualquer. Entretanto, há aproximadamente cinco dias, a cidade de Jerusalém fora cercada pelo exército dos filisteus e, atrás das linhas inimigas, um israelita que acordara mais cedo para dar de comer as suas ovelhas, deseja sinceramente que há cinco dias atrás o sol não tivesse nascido, apesar de que pra ele não houve diferenciação de dias, já que seus olhos não pregaram desde que recebeu a notícia, por um mercador midianita que passava por aquela região, do sítio de sua terra natal. Seu nome é 121. Um alguém que faz parte de uma massa de pessoas que se espalham por toda terra. O que o torna especial para nós, contudo, é a sua situação: 121 está deitado, neste exato momento, completamente só, no meio de um vale qualquer ao redor de Jerusalém.

A propósito, não querendo ser desagradável parando a história, você sabe o que é um vale? Um vale é uma depressão, um abaixamento de terreno que se forma entre regiões montanhosas. Ou seja, na maioria das vezes um vale é a parte mais baixa de uma montanha ou simplesmente a base da montanha.

Agora que já sabemos o que é um vale, voltemos a história de 121.

121 está deitado, neste exato momento, completamente só, no meio de um vale qualquer ao redor de Jerusalém. Sem forças para cuidar de suas ovelhas e de si mesmo, seus braços e pernas têm espasmos contínuos repuxando-se incessantemente devido a falta de nutrientes, pois há dias 121 não sabe o que é comer. Seu rosto está impregnado de uma crosta dura de terra que antes era apenas poeira, mas, após ser molhada por suas lágrimas, adotou a forma de barro. Sua voz assumiu uma rouquidão mórbida, pois, na tentativa de aliviar o desespero, 121 gritara com tanta intensidade que suas cordas vocais não suportaram tamanho esforço. Ao redor de seus olhos, enormes olheiras revelam seu cansaço e angústia. Sua memória trabalha como inimiga interior avisando-lhe que os filisteus não o perdoarão se o acharem atrás das linhas de batalha, nem pouparão sua família e concidadãos depois que iniciarem a invasão a sua amada cidade. Cenas sangrentas de morte são arquitetadas no teatro de sua mente, mantendo-o numa ansiedade que beira os níveis da tortura. Tudo que 121 tem é um vale pra deitar e a seu redor uma cadeia de montes pra avistar.

Um vale (denso, escuro e cercado pelo medo)...

Uma cadeia de montes...