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Muito de nós conhecemos em parte ou totalmente a narrativa bíblica do povo de Israel pelo deserto a caminho de Canaã. Não foram poucas às vezes em que durante a leitura destes fatos eu me vi indignado com a ingratidão e desobediência do povo hebreu. Diante deles operavam-se sinais, prodígios e maravilhas quase que diariamente: mar aberto ao meio, maná que caía do céu, “chuva” de carne de codorna, água pura escorrendo da rocha no meio de um deserto. O cenário perfeito para que corações ardessem de temor, tremor e paixão pelo Senhor, não é mesmo? (a resposta aparentemente é sim!)
Imagino que eu não deva ser o único a manifestar esta “indignação”, pois você, amigo leitor, também deve ter sentido o mesmo em alguns de seus momentos de reflexão bíblica.
Sentimos-nos como Davi diante da história contada pelo profeta Natã: damos sentença de morte a ninguém menos que...
NÓS MESMOS!
No capítulo 14 do Livro de Números lemos o dia em que Deus sentencia a geração do povo israelita que havia sido retirada do Egito a permanecer 40 anos no deserto. A narrativa começa com a murmuração do povo, após a visita dos espias a terra que haveria de lhes ser entregue por Deus. Preocupados com a presença de gigantes em Canaã, 10 (dez) espias trouxeram a Moisés, Arão e a todo povo de Israel um relatório verbal extremamente negativo. Iniciaram seu discurso elogiando a terra e reconhecendo existir nela os atributos prometidos por Deus, todavia, após está introdução meramente retórica, deram ênfase à força dos habitantes que lá haviam dizendo, por este motivo, o que se expressa no versículo 21 do referido capítulo:
Nm 13:31
Em reação ao “tristemunho” destes dez homens, todo o povo, exceto Moisés, Arão e mais dois espias chamados Josué e Calebe, passaram a murmurar, dizendo:
A partir daí o texto descreve o discurso de Josué e Calebe em defesa da possessão da terra prometida. O contra-golpe do povo a narrativa apaixonada destes dois intrépidos espias foi à fúria e a intenção de apedrejá-los. Como resposta as palavras e atitudes rebeldes do povo, o Senhor Deus se manifesta por sua Glória no meio deles e diz:
Deste ponto em diante, Moisés inicia um oração intercessória que é sucedida por um “desabafo e sentença” de Deus a Israel, conforme se vê nos versículos introdutórios de nossa reflexão.
Percebemos que eles estavam próximos a terra e, portanto, prestes a se apossarem do que o Senhor lhes havia prometido. Contudo, sua atitude fez com que Deus lhes punisse com mais 40 anos de peregrinação no deserto, sendo que cada ano representaria 1(um) dia do tempo em que estiveram espiando a terra. E é com base nos versículo 33 e 34 do capítulo 14 de Números que te faço a seguinte pergunta:
SIM!
O próprio texto nos traz 5 erros (pontos negativos) que o povo de Israel cometeu que nos servem de exemplo de COMO POSTERGAR UMA BENÇÃO ou COMO TRANSFORMAR 40 DIAS EM 40 ANOS!
Os pontos negativos a observar são:
1) Não dê ouvidos a voz direcionadora de Deus
Deus havia lhes prometido não só a libertação do Egito, mas uma terra deleitosa que manaria leite e mel (Ex 3:17; Lv 20:24; Dt 11:9). Os olhos de todos os espias atestaram as características desta terra prometida servindo de testemunho (Nm 13:27), porém Israel não quis obedecer a direção que o Senhor lhes deu por boca de Josué e Calebe. Ao invéz de se apossarem, decidiram retroceder com medo.
E quanto a nós: quantas são as vezes que somos orientados pelo Senhor a fazermos algo, mas mesmo assim nos atrevemos a agir de forma contrária?
Nossa incredulidade endurece nosso coração e nos leva a desobediência. No entanto, devemos estar atentos ao que está escrito em Hebreus, capítulo 3, versículo 15:
2) Não obedeça as autoridades constituídas sobre você
Não foram poucas as vezes que o povo se rebelou contra Moisés, Arão ou seus representantes. A rebelião de Corá (ou Coré, em algumas versões) é um triste exemplo do resultado de atitudes de desobediência. Números capítulo 16 narra que 250 (duzentos e cinquenta) homens de posição (isto é, autoridades) sob a liderança de Corá se levantaram contra os lideres da nação, Moisés e Arão. O resultado é o que se observa no versículo 32 do capítulo 16 de Números:
Romanos 13:1 diz:
3) Despreze e resista ao propósito de Deus para sua vida
Israel havia recebido de Deus uma terra que manava leite e mel (e liberdade) e, no entanto mesmo assim desejavam voltar a escravidão do Egito.
Muitas vezes o Senhor compartilha conosco um sonho Dele a nosso respeito e nós desprezamos por acreditar que nossos projetos são maiores e mais importantes. Abdicamos do ministério por uma carreira profissional bem sucedida, casamos com um descrente vivendo um jugo desigual, enfim, resistimos ou desprezamos a vontade de Deus pra nós.
O Profeta Jonas é o grande exemplo da resistência a um propósito de Deus. Circunstâncias adversas e uma série de intempéries o levaram a realizar a tarefa que lhe foi determinada.
No entanto, pergunto: Não seria mais fácil ter obedecido no começo?
Pensando na importância de seguirmos o propósito e ordenanças de Deus para nossas vidas é que o profeta Samuel afirma:
4) Tente a Deus com declarações tolas ou petulantes
Israel afirmou de forma petulante que seus filhos morreriam no deserto (Nm 14:31). Na verdade o que eles insinuaram é que Deus não seria capaz de cuidar deles e da geração posterior, isto é, seus filhos. Suas declarações soberbas e tolas iraram o Senhor de tal maneira que Ele lhes afirmou que morreriam, mas seus filhos sobreviveriam para entrar na terra prometida (Nm 14:32).
Precisamos nos lembrar que temos um Deus que é Senhor, e não servo. Zombar ou tentar a Deus é algo que certamente resulta em severo prejuízo, pois como está escrito:
Dt 6:16
“Não vos enganeis: de Deus não se zomba; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.”
Gl 6:7
5) Murmure contra Deus
A murmuração é como um dedo em riste para Deus. É como se “cuspíssemos no prato que comemos”, sendo incapazes de enxergar sua mão sustentadora presente em nossa vida. Toda ação de murmuração é regida por um sentimento de ingratidão.
Como podemos ser ingratos ao Senhor, se Ele nos salvou da condenação eterna? Como não agradecer a Ele por todos os benefícios que nos tem feito? Como não reconhecê-lo em nossos caminhos se antes andávamos em trevas e agora somos Filhos da Luz?
A murmuração sem dúvida alguma nos afasta da Graça de Deus e abre portas para a destruição em nossas vidas.
Mas, como está escrito:
Após refletirmos sobre estes 5 pontos negativos, percebemos que a maior dificuldade de Deus não foi retirar o povo do Egito, mas retirar o Egito de DENTRO do povo. A consciência medíocre e secularizada do povo de Israel lhe impedia de viver o sobrenatural de Deus e desfrutar de seu cuidado no cotidiano.
Quando cometemos estes erros supracitados, nós postergarmos o cumprimento da promessa, pois o Senhor não realizará em nós nenhuma de Suas Obras antes de retirar de nós aquilo que Lhe desagrada. O Senhor deseja nos usar e abençoar, todavia antes Ele quer mudar nossa maneira de pensar e viver (Rm 12:2). Não podemos viver coisas celestiais com uma consciência mundana.
Desta maneira, precisamos entender que o caminho da benção e da conquista é a OBEDIÊNCIA ao Senhor e sua Palavra(Dt 28). Assim como Jesus sujeitou-se a autoridade do Pai cumprindo Sua vontade (Fp 2:5-11), nós devemos obedecer a vontade de Cristo, pois a obediência nos mantém no lugar certo: O CENTRO DA VONTADE DE DEUS (isto é, junto a Ele)!
E neste lugar a boa, agradável e perfeita vontade do Senhor se concretiza em nós e a partir disto experimentaremos o melhor desta terra (Is 1:19) desfrutando de forma plena da Eternidade em Cristo que começa no dia em que abandonamos o mundo (Egito) e entregamos nossa vida totalmente a Jesus.