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Séculos se passaram e esta história já não brilha como antes. O que reluz agora são os tesouros perecíveis. Profetas se vendem por “barras de ouro” ou “se perdem em barras de saia”. Servos querem ser servidos e Deus deve ser o primeiro ministro de um reino que deveria ser dos céus, mas que agora é da terra (feito de carne e ossos sequíssimos, tal qual o exército inerte de Ezequiel 37).
Jovens que deveriam ser fortes se deixam escravizar pelos sedutores convites de um mundo corrompido. Santidade, unidade, igreja, compromisso são palavras desconhecidas do dicionário de muitos. E no rol das palavras excluídas, execradas, deletadas e repudiadas, em caixa alta e negrito, está a palavra CRUZ.
A mensagem do sacrifício e da entrega, a exemplo do que fez Jesus, agora é ultrapassada. O objetivo não é mais irmos para o céu e vivermos como peregrinos neste mundo, pois o novo lema é gozarmos a vida transformando nossa breve existência num paraíso de prazeres momentâneos.
E Jesus, quem é Ele neste “novo evangelho”?
Resposta: o curandeiro que atrai multidões e multiplica pães.
Resultado: A moda é ser cristão enquanto os milagres estiverem ocorrendo. Se o fruto da videira ou da oliveira mentir, é hora de pular fora do barco.
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” (Lucas 9:23)
“Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.” (João 6:53)
“E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (João 17:3)
Quem não partilha da CRUZ DE CRISTO não é digno de ser servo do CRISTO DA CRUZ, afinal somente quem está em Jesus reconhece o valor que Ele e suas Palavras possuem.
A igreja do século XXI vive um momento muito similar ao contexto do versículo expresso no início desta reflexão. Jesus tem manifestado Seu poder de forma maravilhosa, todavia as pessoas o seguem apenas pelos sinais e prodígios. Quando o discurso é um desafio para o compromisso genuíno, muitos dizem: QUE DISCURSO DURO! LARGA MÃO, CARA! ESSE NEGÓCIO DE SACRIFICAR NÃO É PARA MIM! TENHO MUITO PRA VIVER....
O ego inflado desta geração tem pregado um evangelho antropocêntrico que supostamente pensa conseguir “colocar Deus contra a parede”. Não há Reino, mas República e se Deus não fizer o que seus filhos mimados quiserem nas próximas eleições eles O retirarão do cargo trocando-O por outro.
Certamente NÃO! Mas quem sabe estão os seguintes motivos: um carro zero não comprado, a promoção no emprego ainda não alcançada, a viagem não realizada...
Estamos deixando de viver o Evangelho como Ele realmente é: O Evangelho de Cristo, da Cruz e da renúncia. O Evangelho que recompensa, sim, mas que o faz mediante FIDELIDADE E LEALDADE A DEUS.
O primeiro parágrafo deste texto que descreve o sacrifício da cruz já não tem mais tanta importância para MUITOS de nós. O que nos interessa é o evangelho da prosperidade e das realizações pessoais. Não queremos TEOCRACIA (governo de Deus), mas sim DEMOCRACIA (governo do “povo”). A verdade é que vivemos como se a oração do Pai nosso dissesse:
Que seja feita a NOSSA vontade assim na terra como nos céus...
No entanto, tal qual o apóstolo Pedro temos a oportunidade de escolher ficar aos pés de Jesus reconhecendo que sem Ele nada somos, nada temos e não temos para onde ir. Temos a chance de com nossas vidas proclamar que queremos servi-LO sinceramente e sem reservas, sujeitando o nosso querer ao Dele.
É tempo de nos lembrarmos dos valores abandonados, dos princípios esquecidos, das Boas Novas de Salvação pela Cruz, do Deus que nos ama mesmo quando erramos e que nos perdoa se nos arrependermos.
Por fim, diferente de todos os demais textos que até hoje escrevi, encerro esta reflexão com as estrofes de uma poesia cantada pela banda Resgate no seu último CD, Ainda não é o último, que diz:
Que ainda existe quem torça pra assistir a uma desgraça
E dos fariseus, que engordam com aquilo que é nosso
E dos mercenários que cobram pra nos dar o que é de graça
Lembre-se de quem gera das entranhas o Seu povo
Que valemos mais do que o mundo inteiro com o seu ouro
Que aquele sacrifício é vivo e permanece sobre todos nós para sempre
Pra sempre
Lembrem-se do pão que nunca nos faltou em meio à seca
De quem multiplicou e faz com que nenhum dos Seus se perca
Que nunca foi alguém de carne e osso que nos fez mais nobres
Que não há mais ninguém melhor do que
Alguém que se fez pobre
Lembre-se de quem nos deu o próprio sangue como um selo
Que homens vão e vêm, mas Ele permanece eternamente
Que Aquele que desceu é o mesmo que subiu e que nos levará para sempre
Eu vou me lembrar de não me esquecer
De tudo o que eu fiz
E sempre acreditar
Que o que me faltar
Deus já me deu
E pelo que eu vivi
Sempre glorificá-Lo
Eu vou me lembrar que mesmo assim
Eu nada sou
E sempre acreditar que
Quando eu morrer
Eu vou viver
E, sem parar
Pra sempre glorificar o meu Deus”
Que o Espírito Santo, em Cristo Jesus, nos conduza no caminho de volta à cruz.