domingo, 16 de maio de 2010

O VALE 121 – PARTE 1



“Elevo os meus olhos para os montes; de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra.”
Salmo 121:1-2

Escrever sobre o que se vê é lindo. Falar sobre o que sê ouve é esplendoroso. Mas testemunhar o que sê vive é incomparavelmente singular.
As mais profundas histórias nascem de pessoas que primeiro viveram e depois descreveram suas experiências. As mais comoventes poesias saem das nostalgias, lágrimas ou alegrias do poeta, que, na tentativa de materializar suas emoções, transforma sentimentos em versos.
Há dezenas de homens e mulheres assim na Bíblia. O mais conhecido deles é Davi, o segundo Rei de Israel. Contudo hoje não escreverei sobre os textos do famoso rei Davi. Pelo contrário, compartilharemos, em duas partes, a história de um anônimo. Um homem ou mulher comum que, após muito ter chorado, colheu suas lágrimas numa taça e serviu como agradável bebida as pessoas que estavam a sua volta a fim de repartir com elas a maravilhosa experiência que teve com Deus. Compartilharemos a história do(a) escritor(a) do Salmo 121 e o(a) chamaremos simplesmente de “121”. Portanto, convido-lhe para preparar seu espírito a fim de navegarmos juntos com 121 nas águas da imaginação e da emoção através de uma ficção que quem sabe pode ilustrar a vida de muitos de nós.

Seria um dia comum. O sol nascia alegre beijando as verdes campinas da terra de Israel. As fontes de Jerusalém pareciam cantar uma suave melodia. Os ventos orientais sopravam as oliveiras e os campos de trigo. Ovelhas alvas como a neve chamavam aos gritos por seus pastores. Carvalhos balançavam numa sincronizada dança matinal. Seria um dia comum. Um dia como outro qualquer. Entretanto, há aproximadamente cinco dias, a cidade de Jerusalém fora cercada pelo exército dos filisteus e, atrás das linhas inimigas, um israelita que acordara mais cedo para dar de comer as suas ovelhas, deseja sinceramente que há cinco dias atrás o sol não tivesse nascido, apesar de que pra ele não houve diferenciação de dias, já que seus olhos não pregaram desde que recebeu a notícia, por um mercador midianita que passava por aquela região, do sítio de sua terra natal. Seu nome é 121. Um alguém que faz parte de uma massa de pessoas que se espalham por toda terra. O que o torna especial para nós, contudo, é a sua situação: 121 está deitado, neste exato momento, completamente só, no meio de um vale qualquer ao redor de Jerusalém.

A propósito, não querendo ser desagradável parando a história, você sabe o que é um vale? Um vale é uma depressão, um abaixamento de terreno que se forma entre regiões montanhosas. Ou seja, na maioria das vezes um vale é a parte mais baixa de uma montanha ou simplesmente a base da montanha.

Agora que já sabemos o que é um vale, voltemos a história de 121.

121 está deitado, neste exato momento, completamente só, no meio de um vale qualquer ao redor de Jerusalém. Sem forças para cuidar de suas ovelhas e de si mesmo, seus braços e pernas têm espasmos contínuos repuxando-se incessantemente devido a falta de nutrientes, pois há dias 121 não sabe o que é comer. Seu rosto está impregnado de uma crosta dura de terra que antes era apenas poeira, mas, após ser molhada por suas lágrimas, adotou a forma de barro. Sua voz assumiu uma rouquidão mórbida, pois, na tentativa de aliviar o desespero, 121 gritara com tanta intensidade que suas cordas vocais não suportaram tamanho esforço. Ao redor de seus olhos, enormes olheiras revelam seu cansaço e angústia. Sua memória trabalha como inimiga interior avisando-lhe que os filisteus não o perdoarão se o acharem atrás das linhas de batalha, nem pouparão sua família e concidadãos depois que iniciarem a invasão a sua amada cidade. Cenas sangrentas de morte são arquitetadas no teatro de sua mente, mantendo-o numa ansiedade que beira os níveis da tortura. Tudo que 121 tem é um vale pra deitar e a seu redor uma cadeia de montes pra avistar.

Um vale (denso, escuro e cercado pelo medo)...

Uma cadeia de montes...

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